quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Família não consegue doar órgãos de rapaz devido a demora em exame para atestar morte cerebral

Edição de 31/10/2008
A burocracia contra a vida

Pâmela Oliveira Rio

- Há uma semana, a família do motorista Marcos Vinícius Rojas Arêas, 26 anos, tenta doar os órgãos do rapaz, vítima de acidente. Ele está no Hospital Municipal Conde Modesto Leal, em Maricá, desde a tarde de sexta-feira, quando foi constatada suspeita de morte cerebral, e somente na quarta-feira o foi submetido a exame capaz de confirmar o diagnóstico. O resultado atestando a morte encefálica chegou apenas ontem ao hospital. Muito angustiada, a família da vítima teme que devido à longa espera os órgãos já não possam ser doados. Dias antes do acidente, Marcos disse que queria ser doador caso sofresse acidente. "Eu queria muito saber que uma parte do meu filho salvou alguém, ajudou um jovem a viver com um coração novo, saudável. Ou um rim, um fígado", disse a mãe de Marcos, Nádia do Carmo Gimenes Rojas, 55 anos."Dias antes do acidente, meu filho viu que os pais da Eloá doaram os órgãos dela, ficou emocionado, e disse que se aquilo ocorresse com ele, gostaria de ter a chance de ajudar sete, oito pessoas. Mas a gente vê que a realidade é outra. A burocracia e o descaso são enormes", lamenta a mãe. Nádia diz que a família telefonou para a Central Estadual de Transplantes no sábado para informar o desejo de doar os órgãos, mas foi informada de que o hospital era quem deveria fazer a notificação. "Quando falamos que queríamos doar, o hospital disse que teríamos que arcar com despesas do transporte dele até Niterói e que teríamos que trazer um neurologista de fora. Além disso, teríamos que esperar dias até o corpo do meu filho voltar para Maricá para fazer o enterro. Fomos tratados como se estivéssemos pedindo um favor", conta Nádia, que até a chegada da equipe de O DIA chegar ao hospital, ontem, não tinha sequer a certeza de que seu filho estava com morte encefálica. "Sexta-feira, nos disseram que sim. Sábado, trouxemos médico particular, que conversou com o médico daqui e nos disse que tínhamos que esperar", disse ela.Feriados e falta de estruturaOntem, o diretor do hospital municipal, José Luiz Francisco Santos, disse que a unidade não tem condições de realizar os exames necessários para a constatação da morte encefálica, exigidos pela Central Estadual de Transplantes. E alegou que demorou a fazer o eletroencefalograma — que mede a atividade cerebral — devido a feriados.
"Segunda-feira foi ponto facultativo e terça, feriado. Quarta-feira, o exame foi feito por uma clínica conveniada, mas o técnico teve que levar para o Rio e receberemos o resultado hoje (ontem), por fax", disse."Fica realmente difícil para um hospital pequeno, no interior, ter acesso aos exames necessários para cumprir o protocolo. Isso praticamente impossibilita a doação. Deveria ter alguma forma de ajuda, de auxílio", acrecentou o diretor, que afirma não ter sido procurado pela família ou pelos médicos para falar sobre o caso: "Soube pela Secretaria de Saúde de Maricá". José Luiz disse ainda não ter sido informado sobre a abordagem à família. "Se algum médico disse que a família teria que arcar com as despesas, disse por conta dele", afirmou o diretor.

CONTATO COM CENTRAL ESTADUAL

A Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil afirmou que a Central de Transplantes foi notificada pelo hospital, ontem, sobre a realização do exame para confirmação de morte cerebral. A secretaria afirmou ainda que a Central foi contatada por familiares de Marcos, sábado, sobre a suspeita de morte cerebral, e que propôs que ele fosse levado para o Hospital Azevedo Lima, em Niterói, que tem condições de realizar os exames necessários. Segundo a Central, porém, o pai foi contra a transferência, alegando que o enterro seria em Maricá e a ida e vinda do corpo dificultaria o sepultamento.
Quarta-feira, outro familiar voltou a procurar a Central.

CARLOS R CABRAL

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Transplante em SP cresce 30% no mês do caso Eloá

- A média mensal de transplantes de órgãos realizados no Estado de São Paulo teve um aumento de 30% no mês passado, justamente quando a família da adolescente Eloá Pimentel, assassinada tragicamente pelo ex-namorado, autorizou a doação dos órgãos da menina. "Nunca registramos um impacto como esse", afirma o coordenador da Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde, Luiz Augusto Pereira. Segundo ele, nem a doação dos órgãos do músico dos Titãs Marcelo Fromer, em 2001, nem a cirurgia que deu um novo coração ao ator Norton Nascimento, em 2003, incrementaram tanto a lista de doadores em São Paulo. Até o ano passado, os hospitais do Estado faziam em média 30 transplantes por mês. Já em janeiro de 2008 esse número começou a subir e passou para 36. Mas outubro foi um mês à parte. A média de cirurgias para transplantes de órgãos chegou a 47. Como nenhum estudo foi feito, Pereira diz que não é possível relacionar categoricamente o crescimento à decisão da família de Eloá de doar os órgãos. "Mas os números nunca foram tão evidentes." No total, sete pessoas foram beneficiadas com os órgãos da adolescente de Santo André. No Estado, 14.191 pessoas estão na fila de espera por um órgão. Para cada órgão há uma lista única. Quando a situação de um paciente se agrava muito ele pode, depois de passar por exames que comprovem seu estado de saúde, ser priorizado na fila.
As informações são do Jornal da Tarde.