sexta-feira, 27 de julho de 2012

Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais



Autora: Dra Fátima Duques de Amorim
Fonte: Integralidade em Nutrição


Próximo sábado, 28 de julho, é o dia mundial de luta contra as hepatites virais. Esta data foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em substituição ao 19 de maio, anteriormente marcado como tal. Quando se especifica uma data no calendário, é sinal que o cotidiano das ações sobre as questões que se releva não tem ainda um caráter de normalidade, como deveria acontecer. Assim, temos o dia internacional da mulher num mundo com países onde a violência de gênero ainda é assustadora; o dia do índio, entre nós ainda rechaçados como povo. E vários outros exemplos poderiam ser citados aqui. Em que pese esse fato, a instituição de uma data de "celebração" tem trazido mais visibiliade às hepatites virais. Isto porque a sociedade civil tem se agregado em torno deste dia; as instituições ligadas ao tema sabem estar no foco da mídia e dos atores sociais mais engajados e organizados. A questão das hepatites virais no Brasil é posta em pauta em nível nacional, pelo menos. Entrosando um pouco quem desconhece ainda o tema, hepatite é um termo genérico, que significa inflamação no fígado. Pode ocorrer por várias causas e uma hepatite pode ser alcoólica, medicamentosa, auto-imune e outras. Quando se fala "hepatite viral" é aquela causada por vírus que atacam especificamente o fígado. Isso parece óbvio mas não é, pois o reconhecimento destas diferenças é de caráter bem especializado. O que mais as pessoas associam à palavra "hepatite" é um quadro clínico de olhos amarelos, a icterícia, e urina escura. Porém, a população em geral desconhece o fato de que uma hepatite viral pode transcorrer sem esses olhos amarelados; isso ocorre geralmente na hepatite por virus A. Que alguns vírus podem se instalar no nosso organismo e lá permanecer anos a fio, às vezes mais de 20 anos, só então dando sinais de que estão nos consumindo. São os virus B e C, que podem provocar uma hepatite crônica e evoluir para a cirrose, câncer de fígado, transplante hepático. Atualmente, está ocorrendo uma verdadeira viragem no tratamento da hepatite C. Esta é transmitida quando se tem contato com o sangue de alguém contaminado, de várias formas. Até então, recomendava-se a testagem com o anti-HCV em grupos específicos de pessoas, depois se incluiu o que se chama de comportamento de risco. É estabelecido na literatura médica que devem ser testadas para saber se têm hepatite C pessoas que receberam transfusão de sangue ou hemoderivados antes de 1993; profissionais de saúde; gestantes; usuários de drogas que compartilhem agulhas, seringas ou mesmo canudinhos de aspiração de cocaína; pessoas em situação de vulnerabilidade social; indivíduos institucionalizados como presidiários e assemelhados; quem fez tatuagem ou colocou piercing; gestantes; não esquecendo quem compartilha escova de dentes, lâminas de barbear, alicates de unha ou assemelhados. A transmissão sexual é baixíssima mas ocorre, sendo diferente da hepatite B, onde a transmissão por esse caminho é alta, semelhante à do virus HIV. Recomenda-se, então, que pessoas com múltiplos parceiros sexuais e/ou que façam sexo sem camisinha, também façam o teste anti-HCV. Recentemente, passou-se a recomendar que pessoas nascidas entre 1945-1965, independente do grupo ou comportamento, também façam o teste para saber se têm hepatite C. A razão disso é que tem se visto que o maior números de casos diagnosticados, já em fase de cirrose, são dessa faixa etária. Outro aspecto novo da hepatite C é quanto ao tratamento. As medicações disponíveis até então só atingiam no máximo em torno de 60% de cura. Duas medicações foram incorporadas e os índices de cura subiram para mais de 80%. Não são prescritas para todos os casos, há condutas para definir quem pode ou não ser tratado com estas novas drogas. Apesar disso, a ampliação do arsenal terapêutico representa um novo caminho no combate à doença em casos específicos, mais difíceis de tratar. Sendo um problema de saúde pública, as ações em relação à hepatite C dependem de normas e regras adotadas pelo Ministério da Saúde. Houve a incorporação das hepatites ao Departamento de DST/AIDS e, embora tenham ocorrido algumas transformações quanto às políticas públicas,ainda há uma distância enorme nas estratégias de combate às hepatites virais, para se chegar ao nível de excelência atual do Brasil em relação ao HIV/AIDS. Não se deve, portanto, cruzar os braços pois o caminho é longo. Mesmo nos últimos governos, onde a vontade política já progrediu bastante em relação a outros anteriores, as questões em relação às hepatites evoluem de modo vagaroso. Já sabemos que as conquistas sociais raramente nos chegam "de bandeja". Portanto, cabe a nós - profissionais de saúde que lidamos com hepatites - e à sociedade civil, por qualquer meio de representatividade, uma vigília permanente no que se refere a cobrar políticas públicas eficientes no sentido de prevenir, detectar e tratar as hepatites virais. Apenas isso pode quebrar a cadeia de transmissão dessas doenças que, além do lado meramente técnico, envolvem aspectos de caráter estigmatizante e muito sofrimento. Assim, todos os dias serão 28 de julho. Foto disponível em: http://blogdiretoriafernandopolis.blogspot.com.br/2012/07/acao-multiplicadora-dia-mundial-da-luta.html