domingo, 13 de julho de 2008

Hepatite crônica: o maior mal da saúde pública no Brasil?

08/07/2008 15h18m
Aleandro Rocha
As metas para as políticas sociais devem ser pauta obrigatória nas agendas governamentais. A garantia de uma gestão salutar e democrática dessas políticas, no interesse do cidadão, relaciona-se, nesse contexto, a ações efetivas que possam ir ao encontro das aspirações da sociedade.
No Brasil, a incidência de hepatite revela sintomas de mal estar decorrentes da falta de mobilização. Dados do Ministério da Saúde apontam seis milhões de portadores do vírus das hepatites B e C. Hoje, 95% dos infectados não sabem que carregam o vírus, confirmando a falta de campanhas de conscientização. Fato confirmado pelos números do próprio Ministério. Dos seis milhões de infectados, apenas uma média de dez mil pessoas recebem tratamento anualmente. Menos de meio por cento do número total dos casos registrados.
De acordo com a Frente Parlamentar das Hepatites e Transplantes, presidida pelo deputado Geraldo Thadeu (PPS/MG), a falta de diagnóstico precoce é hoje um dos maiores responsáveis pelo sofrimento dos infectados. A detecção tardia do vírus permite o avanço da doença para cirrose hepática e até mesmo para o câncer.
Além disso, a morosidade nas ações agrava o problema. O protocolo do Ministério da Saúde, por exemplo, não tem registrado novos medicamentos à lista do Sistema Único de Saúde. Sem a atualização, pouco se avança no tratamento e na conquista de resultados mais positivos.
Silencioso, o vírus da hepatite atinge diretamente o fígado. Sua transmissão dá-se por meio do sangue, seringas compartilhadas e materiais perfurocortantes contaminados. Em se tratando da hepatite B, cerca de 70% dos casos de transmissão ocorre pelo contato sexual.
Os sintomas iniciais são geralmente imperceptíveis. Em muitos casos, assemelham-se aos da gripe, o que dificulta a percepção por parte dos infectados. Com o tempo, a doença tende a tornar-se crônica. Pesquisas revelam que 10% dos portadores de hepatite B desenvolvem a infecção crônica. Percentual que aumenta para 80% no caso da hepatite C.
No estágio avançado, com o comprometimento do fígado, a solução para os portadores é partir para a imensa fila do transplante. Neste caso, além de exigir mais gastos do Governo do que a prevenção e o tratamento com medicamentos, estima-se que mais da metade dos doentes que aguardam transplante morrem na fila de espera.
O portador que recebe tratamento tardio e inadequado pode ter sua vida produtiva diminuída em até 15 anos. Mais alarmante do que o número de infectados, falta de tratamento e diagnóstico precoce, é a falta de informação ao cidadão; de ações e mobilizações que poderiam evitar o aumento no número de casos, principalmente impedir milhares de mortes.
Campanhas de vacinação, conscientização sobre regras básicas de higiene e obras de saneamento básico são fortes aliados na luta por salvar vidas. Para debater essas e outras estratégias e ações, a Frente Parlamentar aguarda audiência pública com o ministro da saúde. Geraldo Thadeu também quer fortalecer a parceria com o Programa Nacional de Controle e Prevenção às Hepatites Virais. Para isso, quer estreitar os laços, sugerindo e incentivando ações cada vez mais incisivas por seus dirigentes.
Enquanto isso, é necessário fortalecer o diálogo entre os governos e o terceiro setor, no intuito de propiciar a divulgação da doença, com um alerta sobre seus riscos e sobre formas eficazes de prevenção. Ações efetivas que levem à agilidade do testes de diagnóstico são também demandadas. O incentivo oficial à pesquisas e a novos medicamentos que possibilitem o combate a esse mal quase invisível, mas de efeitos nefastos no corpo social, não pode ficar de fora da agenda do dia das políticas públicas de saúde.

Aleandro Rocha – assessor de imprensa da Frente Parlamentar das Hepatites e Transplantes da Câmara dos Deputados

Fonte: http://www.emtemporeal.com.br/index.asp?area=2&dia=08&mes=07&ano=2008&idnoticia=56297

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