quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Transplantados sofrem com falta de remédios.


12/1/2008


Carmen Azevêdo


Pacientes transplantados que fazem uso da ciclosporina de 50mg amargam a ausência do medicamento na farmácia de transplantados do Hospital Ana Neri, na Caixa D’Água. Essa já é a segunda vez em que falta o remédio na drogaria em menos de quatro meses. Em outubro do ano passado, a cápsula de 25mg não foi encontrada durante 20 dias. Pacientes estão confusos em calcular os usos com cápsulas de 25mg, miligramagem da substância ainda disponível. Por enquanto, não há previsão de retorno da ciclosporina 50mg que, se não for corretamente administrada, pode causar rejeição do órgão transplantado.
A falta do remédio teve início desde a última segunda-feira. Qualquer paciente que chega e procura a substância na miligramagem de 50 é orientado a levar cápsulas gelatinosas de 25mg. Por causa disso, precisam fazer as contas de equivalência da dosagem.
“Pra muitas pessoas, isso pode parecer fácil. Mas há muitos pacientes vindos do interior, pessoas humildes, que ficam confusas porque aumenta a quantidade de comprimidos que precisam tomar”, diz a presidente da Associação de Pacientes Transplantados da Bahia (ATX-BA), Marcia Chaves. Ela comenta as inúmeras queixas que recebeu de parte dos 400 cadastrados na associação desde o início da semana. Destes, 90% fazem uso da ciclosporina.
“Eles se queixam e vêm procurar orientação. Ficam mesmo perdidos”, emenda. Um dos pacientes que precisou também da medicação na miligramagem de 50 é o aposentado Aristóteles Vigas de Almeida, 55 anos, transplantado de rim. Ao procurar o medicamento, teve que fazer as contas para não errar a administração da substância. “Isso é um risco, principalmente porque não há previsão de solução do problema e não se sabe quantas cápsulas de 25mg estão disponíveis em estoque”.
A preocupação com o estoque de 25mg faz sentido já que foi constada ausência de medicamento no ano passado. “E divisões de miligramagens acima de 50 não são possíveis porque não estamos tratando de comprimidos que podem ser divididos, mas de cápsulas indivisíveis”, acrescenta Marcia Chaves.
Ela diz ainda que outro medicamento, o Celecept, estaria em falta na mesma farmácia. “Existe o genérico, mas como tenho alergia, e só posso tomar o Celecept, eu ficaria sem o medicamento”. A diferença no caso de Marcia é que um médico conhecido de São Paulo consegue enviar para ela amostras do remédio. “Mas nem todos conseguem isso. E como ficam os outros pacientes?”, questiona.
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Sesab acusa laboratório
À frente da Superintendência de Assistência Farmacêutica, Ciência e Tecnologia em Saúde da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Gisélia Souza informou que os atrasos ocorridos estão sob responsabilidade de um laboratório, cujo nome não revelou, alegando não lembrar. Admitiu os constantes atrasos no fornecimento dos medicamentos desde o ano passado, e justificou com as lacunas no contrato com fornecedores.
“Estamos revendo uma falha no contrato que permite que os fornecedores atrasem a entrega”. Segundo ela, assim que o pedido é feito, o fornecedor assina um formulário, a autorização de fornecimento de material (AFM). A partir dessa assinatura, ele tem dez dias para a entrega do produto.
“O problema é que ele não tem prazo para assinar a autorização de fornecimento de material, então demora porque ganha tempo em cima da entrega e não é punido contratualmente”, acrescenta a gestora. Ela diz ainda que os atrasos têm ocorrido com diversos fornecedores e que, nesta época do ano, a situação pode piorar. “Muitos laboratórios estão de férias coletivas esta época, então os fornecedores fazem os pedidos, mas não há quem atenda”. Ela assegura ainda que, como solução de curto prazo, tentará tomar emprestados medicamentos de outros estados.
O acesso a medicamentos gratuitos para os pacientes transplantados é definido pela portaria SAS/MS221 de 2 de fevereiro de 2002, do Ministério da Saúde. De acordo com a lei, os medicamentos não podem faltar para os pacientes.

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